terça-feira, agosto 08, 2006

Então prova!


- Pronto, tô aqui na beirada, o que você quer agora?
- Pula!
- Tá louco?
- Pula logo merda.
- Se eu pular eu morro. São 18 andares.
- Eu sei.
- Vou descer.
- Não desce. Você não me ama?
- Amo.
- Então pula oras.
- Pra que?
- Pra provar que me ama.
- Mas eu sei que te amo.
- Prova pra mim que me ama acima de tudo.
- Não se prova essas coisas, ainda mais assim.
- Então... mais um motivo.
- O que?
- Se provar o improvável saberei que é mais real ainda.
- Amor se demonstra...
- Então demonstre que me ama. Pula!
- Eu não, pula você então pra me provar.
- Eu pulo. Depois você pula?
- Pulo.
- Como vou saber que vai pular depois de mim?
- Como assim?
- Ué, eu estando morto quem garante que você vai pular?
- Eu garanto.
- Mas eu vou estar morto.
- Eu pulo junto então.
- Tá.
- Vem sobe...
- Não. Espera. Assim não dá certo.
- Porque não homem de Deus?
- Como vou saber que você vai pular mesmo?
- Então me dá a mão pra pular...
- Porra, assim piora.
- Porque piora?
- Porque não terei certeza se você vai pular ou se vai cair porque te puxei.
- Então não me puxa.
- Mas se você não pular eu vou puxar.
- Então não pulamos, pronto.
- Você não me ama como eu te amo.
- Amo sim.
- Não ama.
- Prova só você então.
- Não quero mais provas de amor. Vou embora.
- Hey...
- Tchau!
- Me espera maluco.
- Vou tomar um suco.
- Eu vou junto.
- Vem...
- Me ajuda então...
- Me dá a mão!
- Obrigada.
- Eu te amo sua boba...
- Hnnn vamos pedir um suco de Abacaxi e Hortelã.
- Queeeee nada disso. Manga!
- Ahhh suco de abacaxi e hortelã... por mim querido, vai...
- Odeio hortelã.
- Por mim vai, só um tiquinho.

Se abraçam e vão caminhando, discutindo sobre qual suco irão beber.

segunda-feira, agosto 07, 2006

O Pingente 8.0

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Japão,
Ilha Honshu,
Região Tohoku,
Província Fukushima,
Parte central da cidade de Aizuwakamatsu aos primeiros raios de sol.





- Senhor Toyotomi, ele chegou. Está encarando os portões do castelo. Venha, precisamos levar o senhor a algum lugar seguro o quanto antes, já está tudo preparado para sua partida.

Aquele homem novo, com suas jóias e roupas de tecidos finos, ignora os apelos de seu subordinado enquanto fita, pela janela, o pátio de seu castelo. Em seus olhos não estão refletidos as árvores de cerejeira, nem os bem cuidados jardins, nem seu vasto exército enfileirado com ótimas armas e armaduras, seus olhos tampouco refletem a riqueza da cidade interna. Nos olhos deste homem só um objeto está refletido: os portões de Aizu pois atrás deste, pelo lado de fora, há um homem, um velho de roupas rotas e chapéu de gravetos.

- Me diga, Lin, você acha que Tokugawa realmente vencerá esta batalha?

- ...

- Não vou partir. Prepare minha armadura e dê-me minha espada. Certifique-se que todo meu exército esteja no pátio e preparado para lutar, diga ao meu capitão para que o exército cause o máximo de ferimentos possíveis neste maldito ronin.

- Sim. Com licença senhor.

Alguns minutos depois ouve-se um imenso estrondo. Os potentes portões de Aizu arrebentam-se do meio para as extremidades. Pesados pedaços de madeira maciça caem, enquanto outros precipitam-se contra o exército prostado no pátio. Alguns soldados, acertados por estes pedaços, tombam. No meio daquela confusão, gritos estridentes comandam o exército para se organizar enquanto uma figura ágil parece voar de fora do castelo vindo em direção aos homens. A figura ágil tem em sua mão uma única espada longa e reluzente, com um cabo branco ornamentado com cobras. Aos poucos aonde este homem está, soldados caem como dominós. Flechas são disparadas inútilmente pois não acertam o alvo, sendo facilmente bloqueadas ora com a espada, ora com o corpo dos soldados que infelizmente são arremessados ou segurados pelo inimigo. O velho parece dançar enquanto desvia facilmente das flechas, espadas inimigas e ao mesmo tempo acerta golpes mortais com os pés, mãos, ombros, e a fatal espada de cabo branco. Alguns soldados, ao cair, pensam como aquele senhor consegue ver alguma coisa com aquele chapéu de gravetos cobrindo praticamente todo o seu rosto. Há muito sangue no pátio de pedras. O exército, antes composto de centenas de homens, começa ter seus número reduzido. A massa de guerreiros começa a recuar para o castelo enquanto a tropa mais afastada de arqueiros recarrega as armas. O velho ronin não demonstra cansaço, ele empurra e puxa soldados ao seu bel prazer para usá-los como escudo ou como arma contra os demais. A espada de cabo branco, OushouRyu, é arremessada vez ou outra contra um inimigo que demonstra mais perigo e rapidamente recuperada pelo seu dono que sorri ao realizar alguma proeza.

Minutos se passam até que finalmente os soldados que restam de pé recuam. O velho sobe rapidamente as escadarias principais que levam às portas do castelo. Ele embainha sua espada e, com ambas as mãos, empurra as portas que dão ao salão de entrada.

- Shogun. Grita o velho.

No meio do amplo salão com grandes colunas de mármore e tecidos pendurados no teto está o senhor feudal de Aizuwakamatsu. Sua armadura tem o desenho de um tigre cinza no peito. Suas vestes, preta e prata, são dignas de um dos homens mais poderosos e ricos de Honshu. Sua coragem é típica de um grande líder.

- Rinnoue, na sua idade você não deveria estar aposentado e descansando em algum canto humilde?

- Eu descansarei assim que o japão estiver unificado e em paz, Hieni.
Fala o velho enquanto tira o seu chapéu jogando-o para um lado.

- Se você não ajudasse os Tokugawa, estaria em paz descansando na sua casa.
O daimyo aproxima-se de seu inimigo com suas espadas nas mãos e fica em posição de luta apontando a menor delas para o velho e erguendo a maior sob sua cabeça.

- A unificação vai parar a guerra. Eu não tenho mais casa desde que minha vila foi destruída. Não tenho mais pessoas que amo. Estou aqui para dar um fim à isto, Hieni. Eu ainda tenho o pingente de Ieyasu Tokugawa. Após te matar não existirá nenhum pingente do clã Toyotomi, exceto o de seu irmão Hideyoshi. O destino de seu clã está selado.

O nobre respira e começa a correr contra o ronin. O velho brande OushouRyu antes de partir em disparada contra o senhor feudal. Rinnoue pula em uma coluna e desvia sua direção fazendo um ataque de cima enquanto Hieni finca seus pés no chão e defende-se com uma espada enquanto golpeia com a outra. Há um brilho de faíscas que saem do choque das espadas. O velho cai em pé atrás do nobre que gira facilmente bloqueando uma nova investida do ronin enquanto tenta acertar o velho com a espada mais curta.

Do lado de fora ouvem-se os estalos de aço se chocando.

continua...

domingo, agosto 06, 2006

Fio de Leite Condensado




Você, assim como eu, também odeia o fio que escorre da latinha de leite condensado ?

Arrggghhhh

- MÃÃeeee, aonde tá o abridor de lata ?
- Merda, cai, cai, caiiiii...
- Ahhhh agora sim !

Nada melhor para tirar o leite condensado da latinha do que uma boa e grande COLHER !

sexta-feira, agosto 04, 2006

10 Coisas antes de morrer...


Um desejo é entrar em uma central de tele-atendimento dessas e fuzilar todos os atendentes.Mesmo com todos gritando eu estaria ouvindo canto de pássaros. Imagina que cena linda, os atendentes tentando correr e esquecendo que estão com o headphone, ficando presos, caindo, e quando tentam se soltar eu chego do lado e BAAAAM... Menos um ! Seria a paz do mundo...


Meu ódio por todos os tele-atendimentos tem crescido exponencialmente. Caramba, não aguento mais: "Para isso tecle 1", "Para aquilo tecle 8", "Número incorreto, tente novamente", "Senhor, procure uma assistência técnica autorizada".

ARGHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Então, coisa 8:
Massacrar uma central de tele-atendimento todinha. Com direito a correr atrás dos fujões e matá-los um-a-um no melhor estilo trash de Sexta-Feira 13. Os atendentes mais abusados ainda iam para uma daquelas salinhas de tortura do Hostel de Tarantino.

quinta-feira, agosto 03, 2006

O Pingente 5.5




Os chinelos finos de couro trançado afundam naquela neve espessa. As meias, já molhadas, não servem mais para aquecer os pés daquele velho. Apesar da idade, os passos são decididos e firmes e as pegadas na neve têm o ritmo de um bailarino.


"A neve à distância aparenta limpeza. Até a neve engana."
Pensa o senhor sob o chapeu de gravetos enquanto balança os pés para tirar a neve.

Olhos estreitos e cansados erguem-se de soslaio rapidamente para um vulto. O corpo sobre somente um dos pés continua o ritual de tirar a neve do outro pé e descer sistematicamente ao solo indiferente à nova movimentação captada pelos olhos. O coração nem se quer palpita mais rápido. Tudo parece como antes, inclusive o olhar, que já voltou ao pé agora enterrado na neve.

- "Ttttshii".

O velho emite um chiado enquanto fecha os olhos e faz cara de desaprovação e falta de paciência.

- Nem um surdo deixaria de ouvir os flocos de neve arrebentando contra seu corpo. Anuncie-se logo e não me faça ficar parado.

Uma voz que ecoa de todos os lados sem elucidar sua localização grita:

- Oyabin não quero feri-lo, só quero o que realmente importa. Quero o pingente.

- Você não veio me ferir lacaio, veio morrer.

A árvore seca pelo frio prolongado da estação balança além do vento. A figura ainda sem forma definida se lança de cima de um dos galhos secos de encontro ao velho. O vulto desce na velocidade de um relâmpago, silencioso como uma nuvem. O velho, mesmo com todas as rugas informando que não teria mobilidade, curva-se para trás melhor que muitos jovens e com um balanço do braço direito faz o vulto cair deitado de costas bem entre suas pernas. A espada goteja um sangue forte na neve que derrete e acolhe cada gota quente. O vulto, ainda desarmado, está às portas da morte. É uma criança com menos de 12 anos.

- Oyabin-Sama. O senhor me perdoa por ter-lhe atacado?

- HienLo...

A ponta fina da espada apoia-se no solo sob a neve. O velho não se curva, sabe que, se parar para lamentar os seus, reforços chegarão. Ele ergue a espada enquanto a esfrega nas calças pretas e molhadas, tirando o sangue de sua discípula da lâmina antes de embainha-la e voltar a caminhar.

E lá vai ele, bailando, enquanto repete meticolosamente os movimentos de andar e tirar a neve dos pés.

continua...